Sebastião

Marcel
2 min readMar 15, 2023

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Tarde de domingo ensolarado, os assados do dia já acabaram mas cheiro de carne assada ainda pairava no ar. As crianças corriam por toda a casa enquanto os adultos carregavam as churrasqueiras para o fundo para iniciar a limpeza. No quintal, onde a família se encontrava para almoçar, uma tina azul cheia de água e gelo guardava uma enorme melancia.

Sebastião pegou um facão, abriu a melancia e repartiu para toda família. Não esquecia de ninguém! As crianças comeram até ficar com as orelhas manchadas de vermelho. Os adultos se refrescaram depois de terem passado horas no calor do fogo.

— Pai, o café tá na mesa o que o senhor quer?
— Polenta com mel — Responde enquanto se ajeita na cadeira ao lado da parede entre a mesa e o balcão da pia (lugar reservado para ele desde sempre)
— Polenta com mel, vô?!
— É gostoso, quer experimentar?
— Ow vô! Qual foi a maior obra que o vô fez?
— A maior? Hmmm… Um convento em Campina Grande.
— Foi a mais difícil?
— Não! Conhece a igreja do Cristo Rei? Já viu aqueles tijolinhos curvos? Fui eu que fiz! Tudo na mão, moldando um por um!

Entre um gole de café e outro, seu Sebastião seguiu contando orgulhoso sobre seus feitos.

— Sabe o hotel Slaviero? Ali perto da Osório. Ali tem vinte andares e a fundação foi feita com linha de trem! E o hospital da PM que usamos pedra maciça para servir de base para toda a estrutura!
— E tudo isso no braço né vô?
— Sim! Na minha época não tinha as máquinas de hoje

Não foram apenas prédios que o vô Bastião construiu. Ele também deu sustentação para uma família de 6 filhos, 7 netos e 4 bisnetos além de uma infinidade de afilhados, sobrinhos e amigos. Ele era muito racional, duro como cimento, não desmoronava por nada, mas dentro do seu peito carregava muito amor. Seu legado estará sempre presente nos prédios que construiu e nos corações de quem teve a sorte de conhece-lo!

Em memória de Sebastião Bueno Zanardine 07/05/1935 a 13/03/2023

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